Como a taxa Selic influencia sua empresa

03/07/2018 | Finanças

Diversas redes sociais, acesso facilitado à internet, novos canais possibilitando um fluxo de comunicação cada vez maior e melhor. Esses são fatores que evidenciam um altíssimo volume de informações disponíveis para a sociedade.

Neste emaranhado de informações é muito natural que, vez por outra, não saibamos o impacto que determinadas informações podem ter no nosso negócio. Assim, o intuito desse artigo é identificar e “destrinchar” uma importante variável de mercado, fazendo uma reflexão sobre como essa variável pode impactar as empresas de um modo geral. Estamos falando da taxa SELIC (Sistema Especial de Liquidação e de Custódia).

Criada em 1999, a SELIC surgiu como uma taxa referencial única, em substituição ao sistema de bandas de juros utilizado anteriormente. Por meio do sistema anterior, o Governo determinava dois limites da taxa de juros. Eles são: o teto (TBAN – Taxa de Assistência do Banco Central) e o piso (TBC – Taxa básica do Banco Central). Em consequência, o mercado praticava os juros do dia dentro deste intervalo.

 Recentemente, verificamos uma sequência de redução da SELIC. Entre janeiro de 2017 e maio 2018, a SELIC sofreu uma redução de praticamente 54%, saindo dos então 13,00% ao ano, para os atuais 6,50%. Você pode estar se perguntando: O que isso importa para a minha empresa?

Para responder a essa pergunta vamos entender o que é, como se determina e qual a relevância da taxa Selic.

Também conhecida como “taxa básica de juros”, a SELIC representa a média ajustada dos financiamentos diários apurados no SELIC, para títulos públicos federais. A cada 45 dias, aproximadamente, o Comitê de Política Monetária (COPOM) do Banco Central se reúne no intuito de discutir e, se necessário, definir qual será a SELIC pelos próximos 45 dias. Ou seja, até a reunião seguinte do Comitê.

Tal definição ocorre com base nas informações dos financiamentos diários, relacionados às operações registradas e liquidadas no próprio Selic. E também em sistemas operados por câmaras ou prestadores de serviços de compensação e de liquidação. Além de dados de mercado e análises de cenários.

Bom, agora que entendemos o que é e como ela é determinada, vamos entender qual a sua relevância. Para isso, vou subdividir o tema e dois focos, sob o ponto de vista do impacto causado:

  1. No mercado consumidor.
  2. No sistema financeiro.

Selic e mercado consumidor

A SELIC é utilizada pelo Governo para fator de correção do REFIS, das parcelas do IR e dos parcelamentos do FGTS e INSS. Ela também serve de parâmetro para outros índices importantes no mercado. Dois deles são: o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e o Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M).

O IPCA é um índice aferido mensalmente pelo IBGE. Nele é medida a variação do preço de produtos e serviços ofertados às famílias brasileiras. Feito por meio de pesquisa, o IPCA tem o foco em famílias que residem em área urbana, cuja renda mensal esteja entre 1 e 40 salários mínimos. O índice busca monitorar a variação de preços de itens relacionados a: alimentação e bebidas, vestuário, educação, transporte, comunicação, habitação, despesas pessoais, dentre outros.

Também aferido mês a mês, o IGP-M é medido pela Fundação Getúlio Vargas. Ele monitora a variação de preços de itens que vão desde matérias-primas (agrícolas e industriais) até produtos e serviços direcionados ao consumidor final, como: legumes, frutas, bebidas, remédios, dentre outros. Diferentemente do IPCA, não há uma restrição do perfil pesquisado em relação à renda familiar.

Assim sendo, se ambos indicadores monitoram a variação de preços de produtos e serviços, seja para o consumidor final ou para os setores produtivos da economia, podemos dizer que, de certo modo, estes indicadores refletem a inflação do período.

A inflação é um importante indicador de mercado, que o Banco Central monitora para tomar as decisões acerca da taxa SELIC.

Vale lembrar, que uma inflação alta reflete em perda do poder de compra por parte da população. Isso indica tendência de redução do consumo e, consequentemente, impacta o resultado das empresas. O que se reflete na capacidade de reinvestimento e manutenção do ciclo produtivo, inclusive em relação à geração de empregos.

Já uma inflação baixa demais, pode significar sobre oferta de produtos e serviços, redução das margens de lucro das empresas e da atividade econômica. O que da mesma maneira impacta no resultado das empresas, reduzindo a capacidade de reinvestimento e manutenção do ciclo produtivo (inclusive em relação a geração de empregos).

Neste sentido, podemos afirmar que a definição da taxa SELIC é uma importante estratégia do Governo. E ela é utilizada para manter os níveis inflacionários em patamares saudáveis para a atividade econômica e, consequentemente, para a economia.

Abaixo segue um gráfico que mostra a dinâmica destas três variáveis nos últimos onze anos. Porém, vale lembrar que existem outros fatores que influenciam em suas oscilações, que não apenas a correlação entre elas.


Fonte: BACEN, IBGE e IPEADATA: Elaborado por Unidade de Acesso a Serviços Financeiros do SEBRAE/MG.

SELIC e o Sistema Financeiro

Lembra que mencionei que a SELIC representa uma média ajustada de liquidação e custódia para títulos públicos federais?

Pois bem! A SELIC é taxa pela qual as instituições financeiras são remuneradas nas operações de crédito entre si. Isso ocorre quando as garantias dadas são títulos públicos. No caso de as garantias serem títulos privados, a taxa é o CDI.

Estas operações interbancárias, que são de curtíssimo prazo, mostram-se necessárias uma vez que, diariamente, ocorrem em todos os bancos operações de saque e depósito. Acontece que as instituições financeiras podem em determinados dias ter excesso de depósito ou de saque. Isso se reflete em excesso ou restrição de caixa, respectivamente. Assim, os bancos emprestam dinheiro entre si, de modo a manterem um caixa saudável e o fluxo financeiro do ecossistema bancário operando normalmente.

Dessa forma, sendo os empréstimos interbancários, muitas vezes baseados na taxa SELIC, a opção para sanar eventuais problemas de caixa das instituições financeiras, é de se esperar que seja ela (a SELIC) a taxa a balizar a composição das variáveis que os bancos fazem para ofertar seus produtos de crédito no mercado.

Assim, teoricamente, podemos dizer que a SELIC serve de referência para se determinar a tendência das demais taxas. Sejam elas de empréstimos ou de financiamentos. Assim, se a SELIC sobe ou já está alta, há uma tendência das demais taxas praticadas pelas instituições financeiras também subirem ou, no mínimo, se manterem elevadas. O contrário também acontece, ao menos em teoria.

Selic x MPE´s

Feitas estas considerações em relação a quanto a SELIC serve de referência para o sistema financeiro, começa a ficar claro o impacto que sua redução pode ter nas operações de crédito das empresas. Sendo ainda mais claro que, o custo de captação de recursos que a instituição financeira tem, ao captar dinheiro dando em garantia título público reduz, à medida que a taxa SELIC reduz.

Assim, o empréstimo ofertado às empresas como capital de giro (por exemplo), se considerado apenas o custo de captação da instituição financeira, poderia reduzir.

É importante destacar que a redução da taxa SELIC não significa, como consequência direta, a redução das demais taxas de mercado. Isto ocorre porque existem outras variáveis importantes que são levadas em consideração pelas instituições financeiras. Podem ser citados alguns como: custos fixos, demais custos de comercialização, riscos da operação, grau de inadimplência e cenário econômico, dentre outros.

De qualquer forma, é sempre bom ficar atento às decisões que envolvem a SELIC.

Imaginando que toda empresa está inserida numa grande cadeia de produção e/ou distribuição e que, as instituições financeiras são fornecedoras de crédito da maioria das empresas inseridas nestas cadeias, temos uma boa ideia das possibilidades de redução de custo de capital de terceiros ao longo de toda a cadeia, refletindo no custo total das empresas e por consequência melhores valores de comercialização de produtos e serviços, maior disponibilidade de caixa, dentre outros pontos positivos.

Dica importante

Em momentos de grande oscilação da taxa SELIC, faça uma releitura nos contratos de médio e longo prazo da sua empresa. Alguns deles, sobretudo os de empréstimo junto às instituições financeiras, podem ter seus reajustes previstos com base nela, e até mesmo em algum outro indicador, que seja diretamente impactado por ela.

Nestas situações, uma eventual redução da SELIC, poderá refletir em uma redução do valor das parcelas futuras do seu contrato.

Por fim, a título de curiosidade, segue link para acesso à ata da última reunião do COPOM, na qual foi decidido pela manutenção da taxa SELIC no patamar de 6.5% ao ano. As atas das reuniões do Copom podem ser checadas aqui.

Espero que este artigo tenha alcançado seu objetivo. E assim, levado até você uma melhor compreensão sobre a importância da taxa SELIC para seu negócio. Também espero ter sensibilizado você sobre a importância de ficar atento às variações dela.

Um abraço. Bons negócios! E até a próxima!

 

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