Estudos da Economia Comportamental mostram que a gestão e as decisões financeiras, muitas vezes, têm como sustentação as raízes comportamentais construídas ao longo da vida. Neste sentido, a educação financeira, que é mais que conhecimento, é, sobretudo, os comportamentos e hábitos em relação ao dinheiro. E esses hábitos e atitudes financeiros podem estar relacionados às finanças pessoais ou empresariais. Pesquisa publicada pela Comissão de Valores Mobiliários apresenta haver correlação entre o letramento financeiro no mundo e o comportamento de poupança. Vamos checar como o comportamento nas finanças se relaciona entre vida pessoal e atividade empreendedora.
Endividamento brasileiro
Em um ranking de 31 países, realizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, sobre inadimplência, endividamento e decisões financeira, o Brasil ocupa a 28ª posição. Nela o país atinge 12,1 em um total de 21 pontos, à frente somente da Croácia, Bielorrússia e Polônia.
Esse estudo demonstra que 37% dos brasileiros tiveram problemas nos últimos meses para pagar as contas do mês. E, ainda, menos de 10% da população consegue tomar, com certa facilidade, suas decisões relacionadas a investimento. Assim como escolher, de forma autônoma, um produto financeiro.
Em junho deste ano, 58,6% das famílias brasileiras tinham, pelo menos, uma dívida. Este índice está bastante próximo ao mesmo período de 2017, quando 59,4% encontravam-se nesta situação. Quando se trata de dívidas e contas em atraso, o número é ainda expressivo, com quase um quarto das famílias brasileiras nesta situação (23,7%), como apresenta a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) realizada pela CNC.
Perfil pessoal x perfil empreendedor
Quando a questão é gestão financeira de empresas, há uma tendência de se replicar na empresa os hábitos, comportamentos, e a organização financeira pessoal. Segundo dados do Serviço de Proteção ao Crédito e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas, 58% dos brasileiros possuem dificuldades para se planejarem financeiramente.
Neste contexto, reunir e lembrar de todos os pagamentos são a maior dificuldade. Para 61,7 milhões de brasileiros, existe alguma conta em atraso. E também restrições no CPF, gerando restrições para contratação de crédito ou efetivação de compras parceladas.
Esse número representa 40,5% da população com idade entre 18 e 95 anos. A faixa etária com maior proporção de restrições cadastrais financeiras (51%) está entre 30 e 39. Outras duas faixas merecem destaque. São elas: entre 40 e 49 anos de idade, com 49% negativados; e entre 65 e 84 anos, representando 31% dos CPF com alguma restrição. Observa-se que as faixas etárias da população que apresentam as maiores proporções de pessoas com o CPF negativado, encontram-se em idade economicamente produtiva.
Dívidas e mortalidade de empresas
Tratando-se de Pessoa Jurídica, o SEBRAE realiza pesquisa periódica sobre a sobrevivência e mortalidade de empresas. A última Pesquisa de Sobrevivência das Empresas no Brasil realizada em 2016 constatou que, dos empreendimentos que fecharam com até dois de atividades, 65% afirmam que foram impactados pelo insuficiente acompanhamento da evolução das receitas e despesas do negócio.
Ou seja, as contas a pagar e a receber foram inadequados para a maioria dos empreendedores. Outra pesquisa realizada pelo SEBRAE-MG, com 119 empresas oriundas de remessas ou de emigrantes retornados, demonstrou que 71% dos empreendimentos só separou as finanças pessoais e da empresa após as orientações do consultor.
As informações sobre sobrevivência das empresas e separação das finanças empresariais e pessoais demonstram que a gestão financeira é um ponto importante. Especialmente para o sucesso dos negócios.
Em se tratando de acesso a crédito e serviços financeiros, ter controles e gestão financeira adequados pode fazer a diferença na credibilidade que as instituições financeiras darão à empresa demandante do financiamento.
Crédito como solução?
Uma empresa financeiramente saudável consegue otimizar seus recursos. Além de estar apta para investir em oportunidades, tornando o negócio mais competitivo, manter a gestão financeira em dia, tanto empresarial, quanto pessoal e familiar, contribui, também, para a decisão sobre contratar ou não um financiamento bancário.
Os empréstimos, financiamentos e outras modalidades de crédito estão disponíveis pelas diversas instituições financeiras existentes. Mas, analisar a real necessidade, oportunidades geradas pelo recurso novo e a capacidade de pagamento são itens essenciais para a tranquilidade financeira.
Crédito para pessoa física
Se o crédito for demandado por Pessoa Física, é sempre importante ter em mente que contrair uma dívida para antecipar consumo pode gerar preocupações desnecessárias.
Além de possíveis “dores de cabeça”, as dívidas contraídas para antecipação de algum bem que poderia ser adquirido no futuro com desconto no preço, muitas vezes comprometem parte da renda que poderia ser poupada para imprevistos. Além da poupança para imprevistos, as economias e rendas extras também são essenciais para compor o montante necessário à independência financeira.
Crédito para pessoa jurídica
Em se tratando de empresas, o ideal é sempre avaliar se o crédito é para aproveitar uma oportunidade de negócio. E também pode ser acessado para tornar a empresa mais competitiva ou suprir necessidade de Capital de Giro momentâneo.
Em ambos os casos, é importante que o valor contratado seja exatamente o necessário. Ou seja, nem mais, nem menos. Se o crédito for além do valor que o negócio precisa, ela terá uma obrigação maior do que aquela que era necessária, impactando na disponibilidade de caixa da empresa.
Se o valor for inferior ao necessário, não resolverá o problema. E, ainda assim, haverá a parcela de pagamento do empréstimo. Para simplificar, compare o crédito ao remédio. Se a dose do remédio for menor do que a indicada, ele não solucionará o problema. Se houver superdosagem, poderá causar danos e até a morte. Isto é, tanto na dose inferior quanto na superior ao necessário, o problema será agravado.
Por outro lado, o crédito, necessário e bem planejado, é saudável à empresa. Ele pode trazer benefícios ao empresário, em casos específicos. Também para os negócios, deve-se calcular o valor necessário e sua viabilidade econômica e financeira. Além desses cálculos, a empresa também deve conhecer seu nível de endividamento e sua capacidade de pagamento.
Se o crédito for para alguma questão pessoal ou familiar, além dos cálculos sobre nível de endividamento e capacidade de pagamento, deve-se analisar se é vantajoso (ou não) o pagamento de juros.
Se a resposta for positiva, tanto para empresas quanto para pessoas físicas, as condições e os custos do crédito devem ser comparados em diversas instituições financeiras e contratada a melhor alternativa.
Modalidades de crédito para empreendedores
Vale lembrar que, quando contratado, o crédito transforma-se em dívida e, esta, deve ser paga em dia para não incorrer em juros e despesas adicionais indesejados. Para as empresas, há três principais modalidades de crédito: Capital de Giro, Investimento e Misto. Cada modalidade possui algumas características básicas:
Capital de Giro
Nas linhas para Capital de Giro as instituições financeiras não exigem comprovação de aplicação do recurso. Geralmente para esta modalidade os prazos de liberação são mais curtos e as taxas, mais altas.
Investimento
As linhas de crédito para investimento, geralmente, possuem taxas mais atrativas. Nestes casos, é comum os bens adquiridos pela empresa ficarem como parte da garantia do financiamento. Também há “carência”. Ou seja, existe um prazo para a empresa começar a pagar o financiamento. E o prazo para quitação costuma ser mais estendido do que os apresentados para as linhas de Capital de Giro.
Misto
Esta modalidade é caracterizada pela junção das duas anteriores. São linhas de crédito, cujo recurso destina-se a Investimento Fixo associado ao Capital de Giro. Nesta modalidade, é normal que taxas de juros fiquem entre as aplicadas para as linhas de Investimento e as de Capital de Giro.
Em qualquer que seja a linha, se o crédito for para a empresa, é fundamental que sua aplicação seja, realmente, para o negócio. É comum empresários contratarem crédito para a empresa e o utilizarem para gastos pessoais. Por exemplo: reforma da casa; compra de um carro novo para a família; pagamento de dívidas domésticas; dentre outras.
Isto faz com que muitas empresas fiquem em dificuldade financeira e, ainda, aumentem seu endividamento desnecessariamente.
Se, em algum momento, for necessário fazer um empréstimo para a Pessoa Física, é importante, assim como para a Pessoa Jurídica, comparar taxas de juros; condições do crédito; o Custo Efetivo Total; valor das parcelas e tudo o que compõe o contrato.
Isso reduz o risco de surpresas desagradáveis e aumentam a consciência das responsabilidades para a dívida contraída.
Cuidados na assinatura do contrato
Antes de assinar o contrato, ou seja, de contrair a dívida, é fundamental que o empreendedor faça as seguintes análises.
Em primeiro lugar, é preciso analisar se o crédito é, realmente, necessário e, em quais condições, deve e pode ser contratado. É importante, também, comparar as condições e taxas de várias instituições financeiras. Assinar um contrato com a primeira instituição pode resultar em um mal negócio. E, além disso, negocie! Na maioria das vezes, há margem para alguma redução de taxas e melhoria das condições pelos ofertantes do crédito.
Outra dica é sempre desconfiar de juros muito abaixo dos praticados no mercado. Com frequência, a mídia divulga golpes financeiros aplicados por instituições não idôneas. Elas prometem empréstimos a taxas muito baixas, ou aplicações a taxas muito acima das trabalhadas pelas instituições reguladas pelo Banco Central.
Não sendo um banco, ou uma instituição financeira conhecida, o primeiro passo deve ser consultar o Banco Central, ligando no número 145 (ligação local) ou pelo site do Banco Central do Brasil
Caminho do sucesso
Dívidas são, sempre, uma decisão importante e demandam uma gestão eficaz. É aconselhável, portanto, nunca atrasar o pagamento de parcelas para se evitar juros desnecessários. E evitar também que aquela dívida adquira um valor muito acima do inicialmente calculado.
Embora pareça óbvio, muitos empreendedores misturam as finanças da empresa com as pessoais. Este erro faz parte dos mais graves para a gestão do negócio. Ele pode comprometer o futuro da empresa, e, por consequência, uma das (ou a principal) fontes de renda da família.
Investir em capacitações sobre gestão financeira empresarial e pessoal é uma importante decisão, e das mais acertadas. Da mesma forma, o Planejamento Financeiro Pessoal é uma boa ferramenta, sendo ele relevante à organização para a aposentadoria e para a independência financeira.
Essa organização pessoal e familiar pode impactar, de forma significativa, o caixa da empresa. Com as finanças pessoais e da família organizadas, é possível ao empreendedor evitar que sejam realizadas retiradas acima do valor que o negócio “é capaz” de fornecer naquele momento.
Essa consciência financeira adquirida a partir de cálculos e projeções (pessoais e da empresa) favorecem a adoção de um estilo de vida familiar mais condizente à sua atual situação financeira. Além disso, proporcionam, também, uma aplicação mais consciente e profissional do Capital de Giro do empreendimento.
Da mesma forma, tendo as finanças pessoais e empresariais em dia, a análise e a decisão em caso de necessidade de financiamento bancário se torna muito mais fácil e assertiva. Contudo, caso já existam financiamentos contratados, com uma gestão financeira adequada, é possível buscar oportunidades para redução de juros pagos, como por exemplo, a portabilidade do crédito.
Baixe Grátis
Como elaborar – Controles Financeiros