Mercado de alimentos em 10 perguntas

23/08/2018 | Empreendedorismo

O mercado de alimentos é um dos maiores no Brasil e vem crescendo nos últimos anos, devido às tendências como alimentos saudáveis, sem glúten e sem lactose. Com o crescimento do mercado e o aumento da procura por alimentação fora do lar, alguns nichos têm surgido como ótimas alternativas de negócio. Mas o que é preciso saber para empreender neste segmento? É isso que nos conta a analista técnica do Sebrae Minas, Simone Lopes. Confira o que ela traz sobre o mercado de alimentos.

1.      Vamos começar por uma dúvida recorrente para negócios de segmentos com concorrência acirrada. Como inovar e se destacar dos concorrentes? Existe alguma tendência neste sentido?

Considerando o perfil de clientes que buscam opções de alimentação fora do lar, promover experiências inovadoras passou a ser um diferencial competitivo para o segmento. Os clientes buscam por experiências memoráveis, sejam relacionadas à qualidade do produto, sua origem e a todas as sensações provocadas por uma boa refeição fora do lar.

A grande concorrência, com diversos negócios que vendem os mais variados produtos e têm formatos igualmente distintos disponíveis no mercado fazem com que as empresas sejam cada vez mais eficientes em seus processos. Atender bem e com qualidade e se relacionar de forma próxima com seus clientes deixa de ser um diferencial e passa a ser premissa para o sucesso dos empreendimentos deste setor.

Assim, para se destacar da concorrência, as empresas de alimentação precisam estar atentas às tendências como saudabilidade e bem-estar, qualidade dos produtos e sua origem ambiental e socialmente responsável. Além disso, é essencial identificar o público alvo do negócio e oferecer as inovações considerando as tendências e desejos desses clientes de forma eficiente e direcionada.

2.      A concorrência acirrada nos leva a pensar no índice de mortalidade das empresas do segmento de alimentação. Como o empresário do ramo de alimentação se protege dessa mortalidade?

Não existe uma receita pronta para se manter no mercado. Porém, alguns pontos são minimamente necessários. Assim como em qualquer negócio, a gestão eficiente é fundamental para prosperar e conseguir manter os resultados, mesmo em períodos de queda das vendas.

O setor de alimentação é muito sensível a sazonalidades e a variações na economia. Assim, ter sob controle a gestão do negócio, com o acompanhamento de projeções e indicadores de resultados e performance permitirá que a empresa se programa frente aos desafios impostos pelo mercado.

Além disso, ter todos os processos de operação mapeados, investir em um bom controle de custos, promover ações constantes de redução de perdas e desperdícios e capacitar as equipes de forma contínua são ferramentas que devem ser utilizadas e que auxiliarão as empresas a prosperarem.

3.      A tecnologia está presente em todos os negócios em maior ou menor grau. Como você percebe que a tecnologia tem favorecido os negócios de alimentação?

A tecnologia é uma grande aliada dos negócios de alimentação. Ela possibilita melhorar a experiência do consumidor, promovendo melhorias no atendimento. Por exemplo, com o uso de comandas e cardápios virtuais que permitem a escolha do prato de forma independente e ágil; facilidades nos processos de reserva, que podem ser realizada online com autonomia do cliente; o autoatendimento, no qual o cliente realiza de forma digital todos os processos desde o pedido, passando pelo pagamento até a retirada do produto, entre outras facilidades.

Outra importante oportunidade é a utilização de aplicativos de vendas na modalidade delivery, que lideram as mudanças do segmento relacionadas à tecnologia. Atualmente, a forma de pedir comida mudou substancialmente se comparada a alguns poucos anos atrás.

O uso de aplicativos, sejam próprios ou disponíveis no mercado, é fundamental para aproximar as empresas dos clientes. O que permite agilidade no atendimento, oferecendo funcionalidades como a possibilidade de procurar por restaurantes próximos, por tipos de pratos ou tempo de entrega.

Tão importante quanto as ferramentas tecnológicas de interação com o cliente final é a utilização de ferramentas automatizadas de gestão. Estas devem ser capazes de integrar, por exemplo, o controle de caixa, de estoque e de processos de produção. O que possibilita maior controle das atividades, trazendo maior vantagem competitiva aos negócios.

Saber utilizar de forma eficiente essas ferramentas, certamente favorece as empresas do segmento.

4.      Agora vamos falar de mão de obra. A falta de qualificação é um fator que afeta muitos negócios. Isso não é diferente no segmento de alimentação. Como empreendedores e empresários podem lidar com esta questão?

O sucesso dos negócios de alimentação está diretamente relacionado à performance de sua equipe e saber geri-la bem é função essencial para um bom administrador. A equipe precisa conhecer a história da empresa e também a mensagem deve ser passada aos clientes. Para isso, a capacitação contínua é fundamental.

A experiência do cliente, em um empreendimento de alimentação fora do lar, precisa ser um reflexo da cultura e dos processos da empresa. E assim, entregar essa experiência aos clientes passa principalmente pela capacitação da equipe. Ela deve deixar de ser uma simples equipe de atendimento para se transformar em uma equipe de especialistas em gente.

É praticamente impossível ter bons resultados no segmento de alimentação sem capacitar as equipes. Facilitar o processo de capacitação com o mapeamento de todos os processos de produção, operação e atendimento ao cliente é uma forma de otimizar os resultados. E também de minimizar as dificuldades. Uma vez que a partir deste mapeamento, o processo de formação das equipes é facilitado.

Neste segmento não basta encontrar alguém disponível em busca de recolocação profissional e contrata-lo, para atuar no setor é preciso minimamente um perfil que tenha técnica, educação e disciplina. Assim, capacitar de forma contínua é o caminho.

5.      O segmento de alimentação é um dos que mais formaliza negócios no formato MEI. Isto implica em pequenas empresas com até 1 funcionário. Como as mídias sociais têm sido usadas para favorecer este tipo de negócio?

Pequenos negócios têm como vantagem competitiva frente aos de maior porte. E também contam com a facilidade de contar a história por traz do negócio. Estar próximo do cliente, conhecer suas necessidades, desejos e preferências é mais fácil para uma pequena empresa. E, nesse processo, as redes sociais se mostram como importantes ferramentas de interação.

É importante uma gestão das redes sociais, entregando conteúdo somado a produtos para manter o número de seguidores e consequentemente o alcance do perfil da empresa. Divulgar o cardápio, fazer promoções e eventos, e oferecer horários especiais de funcionamento são algumas das opções de interação com os clientes. O que pode ser feito via redes sociais.

Mas atenção, o acompanhamento dos perfis nas redes sociais com interação e respostas rápidas aos clientes é premissa básica. Pois eles permitem bons resultados com a utilização das redes sociais para promoção do negócio.

Atualmente comercializar online ainda é uma opção, mas estar online não é mais. Os negócios de alimentação estão sob julgamento constante seja nos sites de avaliação ou nas redes sociais. Clientes enviam elogios, críticas e recomendações em tempo real e as empresas do setor precisam estar preparadas para responder a essa interação. O contato próximo com o cliente em ambos os casos proporcionará à empresa bons resultados.

6.      Um dos modelos de negócio do segmento de alimentação é a entrega a domicilio. Esta ainda é uma boa estratégia para aumentar as vendas?

Diversificar os canais de comercialização para proporcionar ao cliente comodidade é sem dúvida uma grande oportunidade. A modalidade delivery é cada vez mais vista como uma oportunidade para o segmento. Principalmente considerando o aumento no acesso às tecnologias que promovem essa iteração, como os aplicativos de pedidos já citados anteriormente.

No entanto, é importante que as empresas entendam que a operação do delivery difere em vários aspectos do atendimento físico realizado no estabelecimento. Por isso, em muitos casos, é necessário ter estrutura e equipes dedicadas ao menos em parte a essa operação.

O processo de produção, a preocupação com a apresentação e embalagem dos estabelecimentos, a velocidade no preparo e a qualidade e agilidade na entrega são pontos importantes. Eles devem ser observados no atendimento delivery. Assim, é importante conciliar com eficiência as modalidades de atendimento, não deixando que uma prejudique a performance da outra.

7.      Nada do que qualquer empresa faz é exclusivo por muito tempo, neste sentido, quais são os principais desafios dos negócios de alimentação?

Os consumidores do segmento de alimentação estão cada vez mais preocupados com o que consomem e neste cenário produtos com “história” são cada vez mais valorizados.

Para esse consumidor é primordial conhecer de onde vem o produto consumido. E há um forte conceito de valorização do produto de acordo com sua origem e sua história. Cafés especiais, queijos, frutas, produtos que aproximam cada vez mais o consumidor final do produtor rural são valorizados como diferenciais.

Atualmente, um dos principais desafios dos negócios de alimentação é a capacidade de proporcionar aos clientes experiências sensoriais, afetivas e inesquecíveis. Para isso, relacionar-se de forma próxima e cada vez mais pessoal com os clientes é fundamental. E também ter parceria com fornecedores, preocupar-se com o meio ambiente e ter uma gestão sustentável são alguns dos desafios a serem enfrentados pelos empresários de alimentação.

8.      Um dos principais fatores de sucesso dos negócios de alimentação é o cardápio. Qual é a peça-chave do planejamento da lista de oferta de pratos e alimentos?

Estruturar o cardápio faz parte da definição do valor e principalmente do conceito que se quer passar ao cliente sobre o estabelecimento de alimentação, ou seja, o cardápio é a alma do negócio.

Para uma definição eficiente do cardápio, o empresário deve entender qual público-alvo quer atender. Também é preciso saber quais produtos devem prioritariamente estar presentes e quais pratos serão capazes de atrair clientes.

Observar a sazonalidade dos insumos, ter foco ao definir os pratos a serem oferecidos e categoriza-los de forma eficiente são práticas importantes na definição do cardápio. Ter um cardápio enxuto e atrativo é uma tendência do segmento. Assim como a atualização e inclusão constante de novidades, para fidelizar e atrair novos clientes.

9.      O planejamento é um diferencial em muitos negócios, como isso deve ser encarado por quem está iniciando uma empresa do ramo de alimentação?

O planejamento de um novo negócio de alimentação passa por várias fases. Desde a concepção da ideia de negócio; formalização; análise financeira do investimento; definição do cardápio e conceito; definição da capacidade de atendimento; escolha do ponto e do layout, aquisição de equipamentos, capacitação da equipe e divulgação do negócio.

Ou seja, iniciar um negócio nunca é fácil e nesse processo, um planejamento eficiente é fundamental. Estudar o modelo de negócios em que se pretende atuar, qual o conceito do empreendimento e quais experiências se pretende proporcionar aos clientes. Estes são alguns dos pontos a serem observados. É preciso ter em mente quais são os concorrentes diretos. E também como se posicionar de forma única e inovadora e para isso se planejar é fundamental.

10. Qual o impacto do atendimento ao cliente no segmento de alimentação? Existe alguma estratégia específica para esse fator, considerando o cenário atual?

Em um mundo cada vez mais conectado, o cliente tem muitas possibilidades de escolha. Isto vale para comer fora e sob essa ótica não aceita descasos no atendimento. Considerando essa premissa, os negócios de alimentação precisam estar atentos à padronização do atendimento para garantir que a experiência do cliente seja sempre igual ou melhor que a anterior. O cliente satisfeito volta e principalmente indica o estabelecimento. Ambiente agradável, cardápio atrativo e atendimento formam o tripé que sustenta as relações de consumo nos negócios de alimentação. Assim, ter excelência no atendimento é fundamental. O segredo do bom atendimento está diretamente relacionado a uma equipe motivada e bem capacitada. Além disso, investir na formação dessa equipe está entre as principais estratégias que garantirão um atendimento eficaz.

 

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