Moda e artesanato: diálogo que fortalece os negócios

18/12/2018 | Empreendedorismo

A relação entre as áreas de moda e artesanato é tema recorrente em eventos e feiras de decoração e arquitetura. De acordo com alguns estudiosos, a moda interfere na valorização cultural do artesanato. A verdade é que uma área tem muito a contribuir para o desenvolvimento da outra.

Relacionado às técnicas e à indústria, a moda colabora para o desenvolvimento do artesanato ao inserir novas funções nas peças, contribuindo para a melhoria dos processos produtivos do artesanato e agregando valor ao segmento.

Portanto, para entendermos melhor a relação entre moda e artesanato, batemos um papo com a consultora independente de marketing criativo Giovanna Penido. Integrante da Frente da Moda Mineira, ela atua com moda, estilo, beleza, decoração e artesanato, mostrando seu talento e competência no site www.giovannabanana.com.br

Como resultado, temos teste texto. Nele, ela nos traz nova visão sobre a relação entre a história, a delicadeza, os compostos de matérias-primas do artesanato e sua inclusão na moda. Confira a entrevista.

Como a relação entre “moda e artesanato” acontece em Minas?

A princípio, historicamente, o artesanato é uma linhagem de conhecimento. A moda nasceu das mãos dos artesãos e mestres de ofícios talentosos no mundo. Sua história está intimamente relacionada com a evolução das artes e ofícios.

Por isso, dentro dessa perspectiva, a moda cumpre um papel de catalisador de nossa identidade cultural. Logo, a moda de Minas representa muito bem essa ligação histórica. Ela apresenta características marcantes do saber intrínseco dos mineiros, o saber fazer dos nossos artesãos.

Há tempos o artesanato está presente em eventos de moda, colaborando com este segmento. De quais formas um a moda e o artesanato se influenciam?

A junção entre moda e a tradição fortalece o produto no mercado. Consequentemente, isso traz novas possibilidades de trabalho para o artesão. Da mesma forma, a moda por sua vez se apropria dessa identidade local e dos mais variados elementos culturais para criar e lançar novos produtos no mercado.

Tudo que é feito artesanalmente carrega uma história. Você pode nos falar dessa relação especificamente em Minas?

A moda de Minas representa muito bem essa ligação histórica. O que ela precisa é assumir sua essência e revitalizar o seu produto. Ao mesmo tempo, ela pode e deve se reconectar com seus artesãos para o desenvolvimento de um produto com propósito e com conteúdo. É uma forma de se desvencilhar da dura realidade da indústria da moda atual, com a sua dinâmica “pasteurizadora” com as pressões continuas de preço baixo, velocidade e alta produtividade. O artesanato contribui de forma a validar a moda como símbolo cultural.

De que forma a relação entre artesanato e moda fortalece os pequenos negócios em Minas Gerais, sejam eles artesãos ou produtores de moda?

São tantas questões envolvidas. Há uma grande quantidade de bens artesanais com potencial para dinamizar o mercado da moda. É preciso fortalecer essa relação para que um maior grupo de artesãos ou produtores de moda tenham acesso a esse fluxo de consumo. E com isso ocorra uma melhor inserção nesse mercado.

Em tempos de velocidade e instantaneidade, é possível pensar na tradição e na cultura como um valor que ganha preservação, com o artesanato sendo inserido na moda, que já tem um campo definido no mercado?

Sim. Os traços de valor encontrados no artesanato associado a modernas técnicas de produção fazem com que essa tradição permaneça sempre atual. Ao mesmo tempo que há um foco na produtividade em grande escala, para viabilizar ganhos. Por outro lado, há a preservação dos aspectos históricos e culturais. O que contribui para atrair consumidores conscientes e interessados em valorizar as raízes, as culturas de um povo.

Moda e artesanato são duas partes da “economia criativa”, que tem crescido no Brasil. Você pode citar os eventos onde os dois segmentos se encontram?

Por definição, a Economia Criativa tem a ver com a atração para algo criativo. Ou seja, original, diferente, inovador, com humor. Isso quer dizer que a Economia Criativa é um conjunto de atividades econômicas. Assim sendo, ela leva a uma tomada de consciência para a marca, empresa ou até mesmo para as marcas pessoais ou “self branding”.

Eventualmente, hoje, há uma preocupação em se realizar eventos que carregam esse conceito. Por exemplo, em Belo Horizonte acontece o Modernos Eternos que traz uma interlocução entre os diversos segmentos de uma forma ampliada.

Por isso, o evento é um exemplo de pluralidade que envolve diversas áreas. Entre elas: música; gastronomia; arquitetura; design; arte; moda; arte popular; folclore; artesanato; filosofia; tecnologia; fotografia; ilustração; patrimônio; literatura; história e a preservação ambiental da Serra do Curral.

Ou seja, toda a transversalidade e interdisciplinaridade de conteúdo e conhecimento foram contemplados.

Qual é a importância dos eventos de economia criativa para a parceria entre moda e artesanato?

Os produtos criativos podem ser classificados em mais de um segmento como neste caso: a moda e o artesanato. O que é preciso é validar a moda como símbolo cultural, que traz a transversalidade e que dialoga com economia, artes, folclore, designer. E, é claro, cultura e história. Assim sendo, os eventos de economia criativa servem cada vez mais para destacar o artesanato como mais um componente da moda.

Do ponto de vista da gestão de negócios criativos, no dia a dia, como você percebe que os empreendedores e empresários das áreas de moda e artesanato têm se unido? Existe um movimento neste sentido?

Primordialmente, o setor da moda, enquanto indústria, envolve uma série de articulações entre diversos setores. Cabe aos empreendedores e artesãos se reconhecerem como uma cadeia produtiva e incrementarem sua relação. Vejo tentativas de criações de espaços e movimentos. Mas eles ainda precisam ser potencializados.

Como você percebe a união entre moda e artesanato? A junção delas consegue se manter inovadora devido às características “criativas”?

A composição de produtos singulares é uma das maneiras pelas quais o artesanato tem sido utilizado por criadores de moda. Talvez seja essa a estratégia para ir na contramão do fluxo imposto pelo mercado, principalmente o da cópia.

Para você, qual é a principal mensagem a ser deixada para os empreendedores de moda e artesanato que veem nessa união uma possibilidade de crescimento?

A conexão entre o artesanato e a moda é uma troca em que ambos se beneficiam. Afinal, o encontro entre o mercado da moda e os elementos culturais valoriza o papel do artesão. E esse reconhecimento pode ser transmitido pelos estilistas por meio da composição de produtos singulares para comercialização. Assumir as raízes regionais pode ser sim uma possibilidade de crescimento.

 

** Confira mais conteúdos do entrevistado aqui

 

Publicado originalmente em 31/07/2018

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