Agricultura familiar e empreendedorismo

02/01/2019 | Empreendedorismo

A importância da agricultura familiar no Brasil é inegável. Por isso ela é objeto de diversos estudos da ONU, FAO, entre outros. 75% dos alimentos agrícolas são produzidos pela agricultura familiar, conforme relatório da FAO.

O Censo do IBGE nos traz que temos quase 700 mil estabelecimentos da agropecuária só na região Sudeste. Somente no Estado de Minas Gerais existem mais de 550 mil estabelecimentos. O que representa 78% da Região Sudeste.

A agricultura familiar é responsável pela maioria dos alimentos que chegam à mesa da população, como o leite (58%), a mandioca (83%) e o feijão (70%),  como reforça a ONU sobre a importância da agricultura familiar.

Estima-se que 80% da mão de obra no campo é contratada por esta classe. O que proporciona a fixação do homem do campo no campo, empregando assim cerca de cinco milhões de família. Dados os números de grande relevância, é fácil vislumbrar o grande potencial deste seguimento para atuação em desenvolvimento territorial.

Desenvolvimento econômico local

Alguns especialistas defendem que desenvolvimento econômico é um conceito qualitativo,  face ao conceito de crescimento econômico. O que inclui as alterações de composição de produto e a alocação de recursos pelos diferentes setores da economia. Isto com o resultado de melhorar os indicadores de bem-estar econômico e social – pobreza, desemprego, desigualdade, condições de saúde, alimentação, educação e moradia-.

Já o termo “local” seria qualquer recorte sócio territorial delimitado a partir de uma característica definidora de identidade. O recorte “local” depende do olhar do sujeito e dos critérios escolhidos por ele.

A inserção dos agricultores familiares nos mercados institucionais, por exemplo, tem reflexos direto no círculo virtuoso do dinheiro. Isto ocorre quando a gestão pública compra localmente.

Conforme afirma o Centro de Excelência Contra a Fome, o Brasil possui alguns dos maiores programas de compras governamentais de agricultores familiares do mundo. Quando o gestor público oferta a este grupo a oportunidade de acesso ao mercado formal, ele está promovendo a oportunidade de inovarem seus produtos, processos e formatos organizacionais.

Isto possibilita relações econômicas que ultrapassam as fronteiras da região onde se encontram sediados, ou seja, promovendo a inserção produtiva do agricultor familiar.

Gestão pública

Já o órgão público exerce sua função econômica à demanda de bens e serviços da administração pública. O que potencializa o Estado como promotor de políticas redistributivas e indutoras de desenvolvimento econômico.

Ainda pela visão da gestão pública, esta também se beneficia com fixação do homem no campo. Pois isto evita o crescimento desordenado da área urbana, que pode comprometer a própria sobrevivência do território; a geração de novas receitas e a fixação dos recursos públicos no território.

Segundo o FMI, a cada R$ 1,00 (um real) investido em compras governamentais, existe um retorno de R$ 1,70 (um real e setenta centavos). Isto ocorre como recolhimento de mais tributos pelo aumento de circulação de renda no território e atração de novos empreendimentos em virtude do crescimento econômico. Se se este recurso permanece no território, o retorno é fixado no próprio município.

A sociedade como um todo se beneficia da erradicação da pobreza, segurança alimentar e aspectos ligados à natureza.

Os desafios

Os agricultores familiares, comumente, têm custo mais elevado de produção que os grandes produtores. Estes, por sua vez, conseguem diluir os gastos. O que aumenta as margens de lucro, devido à quantidade produzida.

Esse é um dos maiores desafios dos pequenos produtores, que veem a sua margem de lucro diminuída, impossibilitando a obtenção de renda significativa.

Uma das soluções encontradas foi a criação de cooperativas. Isto porque nelas, os agricultores familiares conseguem acesso a tecnologias e insumos mais baratos. Logo, atingem mercados que não conseguiriam sozinhos.

Esse desafio também impacta as principais agências de pesquisa do agronegócio. Isto porque as leva a criarem medidas acessíveis, práticas e tecnologias voltadas à melhoria da produção da agricultura familiar.

Por exemplo, há o investimento na geração de material de apoio e capacitação. Este é  proveniente de pesquisas realizadas pela Embrapa Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Ela, por sua vez, possibilita o acesso dos pequenos produtores a um conjunto de conhecimentos e tecnologias. Isto possibilita o aumento da capacidade de produção e a sustentabilidade das suas propriedades.

Assim, a produção da agricultura familiar se torna viável economicamente. O que proporciona o aumento da renda e do bem-estar aos pequenos produtores.

As oportunidades

Apesar das dificuldades, a agricultura familiar ainda oferece diversas oportunidades para quem deseja empreender no setor. Veremos algumas:

Agroecologia e produtos orgânicos

Os consumidores estão cada vez mais interessados em sustentabilidade e em alimentos mais saudáveis. E estão dispostos a pagar mais por esses diferenciais.

Os agricultores familiares aderiram à tendência. De acordo com dados divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), a produção orgânica nacional cresceu sistematicamente nos últimos anos.

No entanto, esse crescimento ainda é inferior à demanda pelos produtos, gerando oportunidades para quem deseja iniciar no setor.

Neste tipo de produção, abandona-se o uso de agrotóxicos e dá-se preferência por produtos naturais e tecnologias sustentáveis, como:

  • adubação verde;
  • adubação mineral;
  • defensivos naturais;
  • rotatividade de culturas;

Quem deseja ingressar neste ramo de produção deve procurar informações sobre os critérios para a obtenção da certificação em orgânicos; uma vez que esta é forma de garantir qualidade ao ciclo produtivo e também comprovar a procedência dos produtos para o consumidor.

Agricultura digital

A agricultura familiar no Brasil também se beneficia com a transformação digital. Alguns até já usam o termo agricultura 4.0 para se referir à produção baseada em tecnologia de ponta.

Diversas ferramentas digitais auxiliam o produtor no plantio e na colheita, bem como na criação de animais. A maioria delas chega por meio de startups que desenvolvem produtos e serviços específicos para o agronegócio — as chamadas agritechs.

Essas empresas usam a tecnologia para contribuir de diversas maneiras com o setor. Por exemplo, a utilização de drones para monitoramento das lavouras; controle de doenças; fertilização ou aplicação de defensivos em áreas extensas.

A utilização de sensores, na chamada agricultura de precisão, analisa as condições do solo. Por exemplo, são levantados itens como a umidade e os produtos químicos presentes. Consequentemente, isto diminui o custo da semeadura por hectare e otimiza a produção.

Softwares de gestão são utilizados para administrar os estoques de sementes e insumos. E também para monitorar condições meteorológicas, analisar dados das lavouras e acompanhar o preço dos produtos nos mercados. Assim, profissionalizando a atuação dos agricultores familiares.

Loja de produtos da fazenda

As oportunidades de negócios relativas à agricultura familiar não se restringem apenas às plantações e à criação de animais. Esses produtos precisam chegar ao consumidor e um dos melhores meios é montar uma loja.

Podem ser comercializados alimentos produzidos no campo. Por exemplo, frutas; verduras e legumes; bebidas artesanais; conservas; molhos e condimentos; frutas secas; pães e biscoitos; café e chá; doces e geleias; grãos e farinhas; ervas medicinais, laticínios e ovos.

O empreendedor pode aproveitar a grande procura por produtos orgânicos e se especializar nessa linha. Assim, pode oferecer apenas alimentos que tenham selos ambientais. Portanto, atestando que foram produzidos sem agredir o meio ambiente, por meio do uso consciente dos recursos naturais.

O que se pode alcançar

São incontáveis os benefícios que os agricultores familiares podem obter ao fornecer seus produtos na região. Isto pode ocorrer por meio de mercados públicos. Geralmente, os maiores no território; seja como orgânico e agroecológico, que possuem maior valor de remuneração; seja em loja de produtos de fazenda.

Acesso a estes mercados permite retirar o agricultor familiar da linha da pobreza, com produção coordenada, não só apenas de subsistência. O que promove dignidade a este grupo, sentimento de pertencimento, além de qualidade de vida e orgulho por ser importante para o desenvolvimento do território.

Há a crescente percepção de que inclusão dos agricultores no mercado formal gera aos mesmos: condições de estruturação; organização; aperfeiçoamento e melhorias na gestão de sua propriedade e produção.

A partir disso, eles se tornam competitivos para entrar em novos mercados. O que promove um crescimento endógeno e resultando em uma eficiência da cadeia de valor ou aglomerado local.

Há ainda a criação de um ambiente com sinergia entre os agricultores, gestores, empresários da cadeia e sociedade.

 

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